Edição 305 – Xi volta a fazer discurso anticorrupção e mira militares
Nesta edição: Editoras contra JD | EUA e fakenews nas Filipinas | Australianos liberados de visto | Pais chineses querem ser donos de casa |
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Mais uma vez, Xi Jinping levanta a bandeira de combate à corrupção - e, de novo, o alvo são as Forças Armadas, conta a Reuters. O líder chinês fez um discurso na quarta-feira (19) durante uma conferência de trabalho da Comissão Militar Central com membros do Exército de Libertação Popular (PLA) em Yanan, no noroeste da China. A postura de crítica não é nova, já que desde o ano passado uma série de oficiais de alto escalão foram expulsos (inclusive do setor de armamento nuclear) e o ministro da Defesa Li Shangfu notoriamente sumiu - para depois ser demitido. Em sua fala, Xi enfatizou que é preciso lidar com incentivos à corrupção, trazendo mais distribuição de poder e mecanismos de pesos e contrapesos.
Na China não tem Amazon, mas isso não quer dizer que as editoras não precisem enfrentar dificuldades de uma gigante de e-commerce. A batalha da vez é contra a JD, plataforma que domina 88% das vendas de livros no país e que anunciou uma super promoção em 18 de junho ("618"), a segunda maior data de promoções na China, perdendo apenas para o "dia dos solteiros", celebrado em 11 de novembro com super liquidações em lojas físicas e online. Para quem quer saber mais sobre o mercado editorial chinês e o papel das plataformas, vale esse texto da Publish News Sixth Tone conta como editoras baseadas em Pequim e Shanghai anunciaram boicote da JD para manterem a sustentabilidade dos negócios. Apesar do movimento, o South China Morning Post mostra que o 618 acabou com JD e Alibaba cantando vitória. Já a CNBC fala em uma queda geral nas vendas, a primeira em 8 anos.
Campanha antivax parece coisa de 2020, mas só agora veio à tona um escândalo sobre a participação do Pentágono, o Ministério da Defesa dos Estados Unidos, em campanhas de notícias falsas sobre vacinas chinesas. O caso foi contado pela Reuters e, segundo o SCMP, o Pentágono não negou. De acordo com a reportagem, houve uma campanha secreta de militares estadunidenses para "conter a influência chinesa nas Filipinas". A operação clandestina visava lançar dúvidas sobre a eficácia e segurança da Sinovac, vacina de fabricação chinesa contra a Covid. A Reuters encontrou pelo menos 300 perfis na plataforma X, o antigo Twitter, que batem com informações compartilhadas com os repórteres por parte de antigos militares envolvidos na operação, entre as características existem hashtags xenofóbicas como "China é o vírus". Ainda de acordo com a agência de notícias, a campanha teria começado ainda na administração de Donald Trump e prosseguido até os primeiros meses do governo de Joe Biden. À reportagem, o Departamento de Defesa teria dito que utiliza uma série de plataformas para combater a desinformação e acusou a China de espalhar notícias de desinformação. Aguardamos os próximos capítulos deste escândalo.
A China anunciou na segunda (17) a inclusão da Nova Zelândia e da Austrália em uma lista de países com isenção unilateral de visto. Ou seja, permitindo que cidadãos desses dois países entrem na China por até 15 dias sem visto para turismo, negócios e visitas a familiares. A medida foi anunciada durante uma reunião entre o primeiro-ministro chinês Li Qiang e seu homólogo australiano, Anthony Albanese. Trata-se de uma oportunidade para fortalecer o turismo e o intercâmbio na região. Essa é também uma virada de página nas tensões políticas vividas por China e Austrália nos últimos anos. Como os pandas são o ponto forte da diplomacia chinesa, durante a visita ao Zoológico de Adelaide, Li anunciou que a China enviará dois novos pandas ao país em substituição à dupla que retornará a solo chinês este ano.
China pede negociação de paz direta entre Ucrânia e Rússia. Na sexta-feira passada (14), a representação chinesa na ONU instou que ambos os países se sentem à mesa de negociação para tratar do fim das hostilidades e encontrar uma solução política para o conflito. O comentário foi feito na véspera da Cúpula de Paz para a Ucrânia, realizada na Suíça. A reunião contou com mais de 90 países, excluindo a Rússia. A ausência de convite a Moscou foi criticada pela China, que, embora convidada, negou-se a participar pela ausência de uma das partes do conflito. Conforme análise de Temur Umarov para a Carnegie, o evento foi uma tentativa ucraniana de angariar mais apoio internacional para pressionar Moscou e, por isso, Pequim se manteve distante. Ainda segundo Umarov, a China cogita organizar uma conferência de paz alternativa, “genuína”, contando com representantes russos, ucranianos e de outros países. O comunicado final da Cúpula, de fato, não foi assinado por diversos participantes, alegando parcialidade na reunião sem a Rússia.
Pais presentes. A Sixth Tone publicou uma longa reportagem (que vale ler na íntegra) sobre uma mudança significativa na tradição familiar chinesa: mais homens estão dispostos a abrir mão de suas carreiras para se dedicar aos cuidados com a família. O texto cita uma pesquisa com recém-casados, realizada em 2019, em que 50% dos homens declararam apoiar a ideia de homens serem donos de casa. Mas aqueles que efetivamente assumem o papel ainda enfrentam o preconceito da maior parte da sociedade e até de familiares. Apesar disso, os entrevistados pela Sixth Tone não têm dúvidas sobre sua escolha de se dedicarem mais aos filhos, algo bem visto pelo governo: nos últimos anos, diversas cidades estabeleceram o direito de compartilhamento da licença-maternidade entre os cônjuges como uma forma de encorajar as mulheres que trabalham fora de casa (60% da população feminina) a não desistirem de ter filhos.
Abrindo as cortinas. A pequena Huichang, no interior chinês está virando um hub internacional do teatro, conta esta matéria da Radii. Localizada em Jiangxi, no sul da China, viu no início do mês a chegada da trupe italiana Sardinia Theater com uma apresentação-releitura de Macbeth. A cidade agora possui um distrito dedicado às artes e recebe 3,6 milhões de turistas por ano. Em janeiro, o renomado diretor e roteirista Stan Lai inaugurou a “vila do teatro” em Huichang - cidade onde o seu pai nasceu. Lai tem trabalhado com o governo local para levar obras e releituras modernas, bem como apresentações de suas peças The Village e Secret Love for the Peach Blossom Spring.
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
Conto: é junho, mês do orgulho LGBTQIAP+, então vale resgatar este conto de 2021 publicado no Words Without Borders sobre uma lésbica idosa relembrando a sua juventude a partir da narrativa real de Yun-Fan, que vive em uma casa para população LGBTQIAP+ em Taiwan.
Multiverso: tem livro, tem série animada, tem série chinesa, tem série da Netflix e agora vai ter filme - dirigido pelo famoso diretor Zhang Yimou (de Herói). É ela mesma: a trilogia de O Problema dos Três Corpos.
Top 5: vale conferir esta lista (e comentários) sugerida pela escritora Anne Stevenson-Yang com cinco livros para mudar a maneira como pensamos sobre a China e olhar além da superfície. Ela acabou de lançar Wild Ride sobre a economia chinesa.
Analista de Tinder: no combate a gente insatisfeita com apps de namoro, a China agora tem desenvolvido uma nova atividade: os analistas de dates. Reportagem da Sixth Tone conta como esses especialistas podem ajudar usuários a escaparem de roubadas. Dá para confiar?
Nem tudo que reluz cheira bem: o The New York Times mostra como o desejo chinês por durian, aquela fruta que lembra uma jaca e cheira muito muito forte, tem movimentado a economia no Sudeste Asiático.
O gatinho skatista da China que quebrou o recorde de felino mais veloz no skate em 10 metros
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